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Pós e contras

17 mar 14 ARTIGOS | Comentar

O dicionário define bem a palavra fracasso: – Falta de êxito, malogro, derrota. Só não especifica de quem… Portanto, não deve ser muito fácil lembrar-se de uma primeira vez destas. Afinal em determinados momentos da vida temos explicação para quase tudo. E a palavra fracasso acaba sendo usada apenas em épocas muito maduras e serve até pra chamar atenção sobre a gente.

– Olha, infelizmente fracassei… E ao nosso olhar triste juntam-se muitos olhares que por conta da frase, rapidamente se tornam benevolentes.

– Que nada, deixa disso, você fez o melhor que pode.

Então, na lista dos meus fracassos, o que estou considerando meu primeiro, quem sabe em que número se encontra.

Mas tudo aconteceu assim.

Quando o curso de reciclagem estava no final, Sandra a orientadora fez questão de frisar:

– Pessoal, vamos ter prova para a pós-graduação. Quem quiser se inscrever passe pela secretaria e retire as informações necessárias.

Na secretaria a indicação era de que as inscrições seriam aceitas, mas a data das provas ainda não tinha sido estipulada. Muito provavelmente aconteceria no início do ano letivo. Final de fevereiro ou começo de março.

Ótimo, pensei, pois pela primeira vez tinha uma viagem marcada com antecedência e ela aconteceria na emenda do feriado do dia 25/01. Aniversário de São Paulo. Então, tranquila, só voltei a pensar no assunto quando em meados de fevereiro liguei para saber da data da prova.

– Qual prova?

-…

– O teste aconteceu no dia 26/01, e as aulas já iniciaram.

Em vão lembrei a secretária que havia ficado de mandar correspondência avisando, de que a data prevista também era outra e coisa e tal. Talvez por se lembrar ou não, com muito boa vontade passou-me o endereço eletrônico da orientadora responsável pela pós. Professora expoente, autora de muitos livros e teses.

Fiquei encantada e tratei de escrever explicando o acontecido.

Com surpresa recebi sua resposta no mesmo dia marcando para o seguinte um teste.

Sem ter o conteúdo da matéria e sem muito tempo também, enfrentei meu novo vestibular. A prova era imensa e respondi baseada na vivência em salas de aula, sem me ater a nenhum caráter teórico. Em três dias fui chamada para o teste oral.

A tão famosa professora me recebeu e comentou que eu havia sido muito bem recomendada, que minha prova demonstrava ótimo conhecimento prático e muito pouca teoria e que talvez o melhor fosse fazer uma reciclagem teórica.

Entre conversas e divagações, consegui convencê-la do meu interesse apenas na pós.

Como o dicionário também define a palavra sucesso comecei a me sentir o máximo.

Sucesso – aquilo que sucede; acontecimento, fato, ocorrência, qualquer resultado de um negócio, de um empreendimento, bom resultado; êxito, triunfo.

Então, duas vezes por semana, atravessava toda a cidade e das 19 às 22h00min assistia aulas que focavam o construtivismo na alfabetização.

Além de tudo, isto de fazer pós é ótimo. Quando me perguntavam o que estava estudando e eu dizia, estou fazendo pós, até o jeito de continuar a conversa era outro…

Sem dúvida me sentia o máximo.

No primeiro mês a professora expoente deu aulas e ficou claríssimo que me faltavam

palavras. As perguntas feitas eu responderia com duas ou três apenas, enquanto os demais usavam tantas que precisavam de pelo menos cinco minutos até concluir o pensamento.

Meu conhecimento na prática, no sentir o aluno, de trabalhar com cada um isoladamente

tinha grandes explicações na teoria. Palavras rebuscadas, reticentes.

Antes de questionar meu laconismo, perguntei para uma amiga também orientadora de pós:

– Que faço agora?

– O jeito é você melhorar, se tornar um pouco mais prolixa. A vida acadêmica tem uma vertente diferenciada, um discurso mais amplo, melhor elaborado.

– Uma única palavra me veio. Merda!

Bem, quem sabe nos trabalhos escritos eu consiga rechear mais. Porém, quando terminei meu primeiro texto não conseguia enviá-lo. Era um dizer e desdizer. Um andar as voltas… Se me construía por um lado, desconstruía por outro. No final do segundo mês tomei coragem e coloquei meu problema em discussão, ou pensei que colocaria. O silêncio desagradável da classe deixou claro que ninguém estava entendendo qual era a minha.

A orientadora séria, disse-me que procurasse ler mais, quem sabe uma nova bibliografia. Anotei, comprei, li e fui levando a pós, já cheia de contras.

No terceiro mês começaram as aulas de linguística. Ai foi o caos. Embora adore palavras, as discussões baseadas em sintagramas, paradigmas ou concepção não me davam subsídios práticos para as atividades.

Com mais um mês de aulas senti que jamais escreveria um trabalho de conclusão que contivesse tantos termos.

O dicionário realmente define bem a palavra fracasso: – Falta de êxito, malogro, derrota. Só não especifica de quem… Portanto resolvi aceitar o meu, mas não segui o conselho inicial de fazer uma reciclagem teórica, procurei um outro curso que me desse uma abordagem prática e eficaz em sala de aula. Então antes de passar na secretaria escrevi um email para a orientadora, agradecendo e me transferindo para o outro curso.

Hoje consigo explicar teoricamente meu fracasso:

“- Se incluir é um verbo transitivo direto, que exige um movimento do sujeito para efetivar a ação, a primeira preocupação é que os “sujeitos” envolvidos com o propósito de des-envolver tenham muitos “predicados”. Há de se levar em conta o aluno e preparar seus “sujeitos” com os “predicados” necessários.”

Seja na alfabetização, ou, na pós graduação.

 

MARIA IZABEL MARTINS 

Socióloga, educadora alfabetizadora

 


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